Em reportagem publicada no
jornal El País, a jornalista María Martín narra a história do “Todos na Luta”,
projeto realizado na comunidade do Vidigal pelo renomado treinador de boxe Raff
Giglio. A escola, que formou o medalhista olímpico Esquiva Falcão, enfrenta
atualmente dificuldades para se manter em funcionamento.
Alunos do Instituto treinam em uma laje / Foto: Marcio Isensee |
Criado oficialmente em
2010 (mas em funcionamento desde meados dos anos 1990), o Instituto Todos na
Luta surgiu após a escola privada de Giglio fechar as portas devido à guerra do
narcotráfico entre líderes do Vidigal e da Rocinha. Em 2012, a ONG atingiu seu
melhor momento, quando ocupava todo o andar térreo de um prédio nos pés da
comunidade e contava com um patrocínio de um milhão de reais, dinheiro
suficiente para manter até 100 crianças participando de forma simultânea no projeto. “Nas favelas do Rio não há
oportunidades de nada para ninguém. Há poucos trabalhos sérios que ajudem a
comunidade. Assim, umas aulinhas de boxe ou assistência social já são um lucro
enorme para a criança”, defende Raff.
A escola era capaz de
fornecer a cada aluno uma bolsa mensal de 30 reais, uniforme completo e cesta
básica, além de ter uma equipe formada por pedagogos, assistentes sociais e até
fisioterapeutas. Para as
mães das crianças, os treinos são uma tranquilidade. “As aulas lhe deram mais
responsabilidades, não fica tanto tempo na rua, distrai a mente com coisas
construtivas, pratica esporte... É muito bom para ele”, conta Dayane dos Reis,
mãe de Juan, de 13 anos, que treina no Instituto há seis anos, e de Matteus, de
11, que acabou de começar.
De um
espaço amplo e com vista para o mar, o Instituto hoje funciona no centro
cultural da favela do Vidigal, onde as aulas acontecem em uma sala com cerca de
dois metros de comprimento. Ainda no final de 2012, a nova administração do
condomínio onde o projeto era realizado conseguiu reaver judicialmente o espaço
(doado pelos condôminos de forma gratuita ainda em 1994), fazendo com que o
principal patrocinador retirasse a sua verba e ameaçando o trabalho e o sucesso
da ONG. “A partir desse momento tudo se complicou. As empresas que podiam se
interessar teriam que assumir um investimento maior, uma vez que não tínhamos
nada. Ficavam com receio”, diz Júlia Giglio.
O fundador e treinador Raff Giglio / Foto: Marcio Isensee |
Atualmente, o “Todos
na Luta” depende diretamente das pequenas doações realizadas pelo ator global
Malvino Salvador (também aluno de Raff), pelo Instituto da Criança (organização
que apoia iniciativas sociais no Rio e São Paulo) e pelos mutirões realizados
pela comunidade. Mesmo com a previsão de um novo espaço (uma antiga oficina
mecânica, atualmente sem teto e necessitante de amplas reformas), as
dificuldades em obter apoio ainda são uma dura realidade. “Estamos tentando nos adequar à lei de
incentivo fiscal para empresas que nos patrocinem. Se conseguir a aprovação
você ganha um certificado, mas hoje o Estado só está aprovando projetos que já
tenham um patrocinador”, reclama Júlia
“Há um descaso generalizado. O investimento
das instituições está na ponta. A gente tem atletas que estão na seleção
brasileira que ganharam os Jogos Sulamericanos e que agora recebem bolsa
federal. O investimento tem que estar na base. Aqui tem muitos meninos com
potencial para o boxe e outro esportes, mas precisam de uma estrutura”, disse
Júlia.
Conheça mais sobre o projeto acessando o site do "Todos na Luta".
Para ler a matéria completa, acesse a reportagem original "Último Round para o boxe do Rio Olímpico" no site do El País
Fonte: El País, Favela 247
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