Crianças participam da intervenção da Tropa do Afeto na Comunidade da Mangueira |
Domingo é um dia preguiçoso. Com chuva então, torna praticamente nula a vontade de sair da cama. Era o que estava previsto, mas não foi como aconteceu. O Sol resolveu aparecer e, contrariando meteorologistas, tivemos um dia ensolarado. O feriadão da semana santa foi suficiente para descansar e ter as energias renovadas, e o domingo virou dia de brincar com o pelotão da Tropa do Afeto.
Idealizado e iniciado por Wagner Seara, o projeto está ganhando cada vez mais espaço nas comunidades cariocas. Definido como um ato poético, as apresentação são realizadas tanto por atores quanto por não atores, e trabalham a arte circense com o objetivo de levar carinho e respeito através de brincadeiras populares e muita música. "Buscamos o resgate de valores humanos, como o contato, a proximidade e a chance de incentivar o sorriso das crianças", diz Seara. "Nosso bando é a minha potência de energia, é o que me mantém respirando nesse mundo caótico", completa.
Os cortejos da Tropa do Afeto ocorrem sempre acompanhados de muita música |
O Treinamento
Todo mundo é bem vindo nessa intervenção calorosa. O destino é anunciado na página oficial do Tropa do Afeto no Facebook, e a partir daí o convite está lançado. Basta chegar ao local onde a trupe de palhaços se concentra para sentir a energia positiva que emana dos participantes. O acolhimento é imediato, e até mesmo os soldados de primeira viagem logo sentem-se parte desta tropa. O roteiro da ação tem início com a caracterização e maquiagem. Quem tem vontade de participar mas não possui roupas ou pinturas necessárias não precisa se preocupar, pois os organizadores disponibilizam maquiagem e figurino (obtida através de doações) para quem não tem. Quando questionado à respeito da escolha da figura do palhaço, Wagner responde, “ Eu sou palhaço de rua desde 2007. E o palhaço é um ser possível, ele pode fazer tudo. Ele só precisa estar disponível e entrar em contato com o outro de uma forma verdadeira” .
A Preparação
Logo em seguida, dá-se início à dinâmicas de grupo para que o entrosamento aconteça. Fica evidente a importância e valorização do contato. As pessoas são incentivadas a perceber e entrar em contato com o ambiente onde vai ser realizada a intervenção, assim como a conhecer seus colegas palhaços que estarão ao seu lado durante o dia, tudo para que o contato seja o mais natural possível ao longo do cortejo. Feito isso, é hora de ir para a rua.
O Cortejo
Com hino próprio e brincadeiras que remetem ao mundo do circo, toda a trupe do Tropa do Afeto busca movimentar a alegria e o amor ao próximo através do contato mais do que direto com os moradores da região visitada. Não há quem não pare, seja no portão, calçadas ou janelas, para espiar e acompanhar o cortejo do grupo fantasiado que canta e toca. Nesse momento percebe-se que apesar do apelo infantil do palhaço, o gesto toca não só crianças, mas também adultos e idosos. “Eu gostei muito! Gostaria de participar também.”, disse Valdete Santos do Nascimento, 56 anos enquanto observava seus netos brincarem. “Eu achei uma iniciativa muito boa. As crianças brincam e a gente também”, contou Elisane Batista da Silva, 24 anos, que segurava o pequeno Davi no colo enquanto uma das palhacinhas pintava seu nariz. Após o cortejo é hora de reunir os voluntários e crianças para uma foto oficial e fazer muitas brincadeiras populares como peteca, corda e cabo de guerra. Uma guerrinha de pistolas d’água fecha o ciclo de brincadeiras onde crianças e palhaços brincam juntos, o tempo todo.
Moradores assistem ao cortejo da Tropa do Afeto no Morro da Providência |
Comunhão
“Nós não fazemos doação nenhuma. Quando você faz alguma doação, apesar de ser uma atitude extremamente humana, a pessoa que está necessitando sempre vai te enxergar como alguém superior. No caso de afeto, brincadeiras, ele te vê como alguém idêntico a ele e nós horizontalizamos as reações”, disse Felipe Duarte, 27 anos, corretor de imóveis, que participa das intervenções do Tropa há dois anos.“ Essa atitude me motiva. É um projeto independente de religiões e sem apoio governamental. Após participar pela primeira vez não tem como parar”, completa.
No dia 27 de abril de 2014 o Tropa do Afeto esteve na comunidade do Tatão em Anchieta, e esta foi descrita por Wagner como uma das intervenções mais emocionantes, “Hoje foi incrível! Foi o maior número de pessoas que já chegou no ato, nunca trabalhamos com tanta gente. Foi mais difícil organizar, fazer dinâmicas, mas foi incrível! Conseguimos reunir a galera vibrando, as crianças sorrindo, o bêbado dançando e os cachorros chegando”. Dia 27 foi também o dia da despedida de Wagner, já que ele está de mudança para Minas Gerais. “Preciso respirar um pouco do caos da cidade grande. Mas Minas é muito perto, vou sempre continuar.” Quando perguntado se as intervenções continuariam ele foi decisivo, “ Já falei que se acontecer algo comigo e o Tropa não continuar, eu volto para puxar o pé de cada um.”
A alegria é um dos ingredientes essenciais à Tropa do Afeto |
Segundo seus idealizadores, o projeto não tem um dono, foi apenas dado um salto inicial, que poderia ter sido dado por qualquer outra pessoa, e a partir daí teve continuidade de forma extremamente democrática. Para juntar-se ao grupo de palhaços sorridentes, basta levar sua tinta para o rosto, batom vermelho, roupa colorida e sapatos confortáveis, além de muita disposição e carinho para compartilhar.
Integrantes da Tropa do Afeto acompanhada de moradores da Comunidade do Tatão, em Anchieta |
Você pode acompanhar as atividades da Tropa do Afeto na página oficial do grupo no Facebook: https://www.facebook.com/tropa.doafeto
Matéria por Ana Carolina Carvalho
Que lindo! Participar da Tropa é realmente uma experiência única e enriquecedora! É aprender a dar valor às coisas simples da vida, que são as que realmente importam.
ResponderExcluirQuem puder chegar junto fique à vontade. Todos os palhaços de primeira viagem são super bem acolhidos :)))